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Veritas

  • relyjae
  • 18 de abr. de 2021
  • 2 min de leitura

Atualizado: 30 de mai. de 2024

Tanto quero o pão e o vinho, a realidade e a fantasia, é isso que nos mantém vivos.

Cazuza

 

O vinho é uma bebida milenar com uma rica história, possuindo vários significados e rituais. Usado em diferentes situações, seja de alegria ou de tristeza, de derrota ou de vitória, religiosas ou laicas. Mas cuidado, ele também pode ser revelador ao trazer à tona verdades não ditas... Tome com moderação!


Minha avó Branca, descendente de italianos, tomava o seu diariamente, hábito familiar que passou de geração em geração. Lembro quando alguém derramava o vinho sobre a mesa, por acidente, e ela exclamava: – Alegria, alegria! – Em seguida molhava os dedos no líquido, benzia-se como se água benta fosse e pedia a todos que fizessem o mesmo. Era um alívio para o desastrado, pois se transformava em algo bom, uma benção coletiva. Para as crianças o desfrutarem, ou participarem dos brindes, preparava-se um ‘suco’ com um pouco da bebida, água e açúcar. Mexia-se bem e estava feito o delicioso néctar – a gurizada lambia os ‘beiços’. Todos nós da família, claro, nos tornamos apreciadores de um bom vinho. Ela também gostava de molhar os pedaços de pão fresco numa mistura de azeite de oliva e sal para acompanhar a bebida. Combinação perfeita.


O pão e o vinho, inicialmente simbolizando o corpo e sangue de Cristo no Sacramento da Eucaristia, saíram do ambiente sagrado tornando-se uma dupla muito apreciada no mundo leigo. O mesmo aconteceu com os cálices de metal. Na idade média, a realeza utilizava somente este tipo de taças. Dizem que o vinho, naquela época, era turvo e o metal disfarçava este aspecto não muito agradável. E como bem diziam os romanos, in vino veritas, aproveitavam-se disso para descobrir segredos de estado e de alcova, embebedando seus possíveis informantes. Verdades reveladas que por vezes doíam ou até mesmo matavam. Quantas conspirações foram feitas através de cálices de vinho? Quantas guerras declaradas ou findas? Casamentos tratados ou desfeitos? Um brinde selava muitos pactos. Inclusive alguns reinos foram perdidos, e outros ganhos por meio de um cálice de vinho envenenado. Crimes diversos encobertos pelo turvo néctar dos deuses em recipientes metálicos.


E a bebida foi se tornando cada vez mais memorável, ganhando novos terroirs, além mar, novos aromas e sabores. E principalmente novos métodos de conservação que o deixaram translúcido, com características próprias a cada tipo de uva. Foram deixados de lado os cálices de prata e substituídos pelos de cristal, que além de potencializar suas qualidades, revelam suas tonalidades, brilho e limpidez.


Hoje podemos nos deleitar com vinhos da mais alta categoria, ou mesmo com aquele que apenas nos agrade ao paladar, sem ser o melhor, nem o mais caro. Mas que nos propicie, ao tilintar de nossos cálices, um brinde a vida, repleto de emoção e prazer: Tim-Tim, Cheers, Salute, Prost, Santé, Salud... Saúde a todos nós nestes tempos difíceis!

2 Comments


LUCIANE INES GRUNDLER RAMOS
LUCIANE INES GRUNDLER RAMOS
Apr 22, 2021

Tim-tim !!!

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zenidanelon
Apr 19, 2021

Muito interessante a história que nos contaste, sobre essa bebida que se tornou infalível à nossa mesa. Obrigada por compartilhá-la de uma forma, ao mesmo tempo, didática e poética.

Tim-Tim, Cheers, Salute, Prost, Santé, Salud...

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