Nossas escolhas
- relyjae
- 27 de set. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de abr. de 2022
"Nada é mais difícil e, portanto, tão precioso, do que ser capaz de decidir".

A tomada de decisão é um processo complexo que difere de pessoa para pessoa — podendo ser um desafio prazeroso para umas e uma dura prova para outras. Bem como o resultado dessas escolhas, onde seus efeitos podem ser desde uma imensa satisfação ou um sentimento de culpa e arrependimento. Esta capacidade depende em parte do nível de autoestima e autoconfiança adquirido desde a infância. E do exercício diário de se fazer simples escolhas: isto ou aquilo; agora ou depois; mais ou menos; fazer ou não fazer — ser ou não ser, eis a questão.

E a pressão começa cedo, desde bem pequenos — o que você vai ser quando crescer? — quando naquele momento a criança só pensa mesmo em brincar, em viver o presente como bem sabe fazer. Pena que se esquece disso quando se torna adulto e precisa pensar no futuro, deixando de viver o aqui e agora.
Afinal, a vida exige escolhas cada vez mais complicadas, com consequências que podem afetar não tão somente a própria pessoa. Esse é o maior problema para os inseguros e para o mundo.

Algumas brincadeiras antigas facilitavam esta tarefa na base do acaso ou da exclusão. Quem nunca resolveu uma questão com uma margarida e um Bem-me-quer, malmequer? Ou com Pimponeta, Par ou Ímpar, Discordar? Hoje é na base de um clique ou toque... Escolhas digitais. Tudo pode mudar em um segundo. As crianças nem conhecem mais as brincadeiras infantis, passam mais tempo nos jogos e vídeos duvidosos de youtubers e influencers. Voluntariosas, se irritam quando contrariadas — geração floco de neve*. Os pais, por comodismo, vão deixando acontecer. E muitos ainda privam as crianças de fazer as suas próprias escolhas decidindo por elas, seja por superproteção ou por ansiedade mesmo, para resolver logo o assunto. Não podem perder tempo — tempo é dinheiro. Isso vai interferir em suas vidas, dificultando ações e decisões futuras.
O excesso de opções também atrapalha as escolhas, por trazer a dúvida e a necessidade de análise de cada uma delas. Isso torna o processo mais difícil e demorado, além de deixar margem para a indecisão ou a impulsividade. Como vemos, decidir é uma capacidade em constante aperfeiçoamento, onde todos almejam ser 'pessoas bem decididas', pois isso tem uma estreita relação com o 'ser bem sucedido'.

Como uma simples escolha pode ter tanta coisa envolvida? Com peculiaridades que podem influenciar e mudar o rumo de uma ou várias vidas? Não é à toa que temos que aprender desde cedo a escolher Entre a cruz e a espada, como diz o velho ditado.
E com esse dilema a cada dia mais presente no mundo moderno causando ansiedade, surge o fenômeno dos livros de autoajuda. Com títulos tais como A Arte de decidir ou A Arte da Escolha, acenam com a promessa de ensinar ou treinar essas capacidades — acabam transformando-se em best-sellers.
Certas situações requerem uma avaliação rápida e uma tomada de decisão imediata — é onde mora o perigo. Seria como estar na frente de um penhasco sem poder voltar e ter que escolher pra que lado saltar em águas desconhecidas, e de que forma — se com ou sem impulso, em pé ou de ponta cabeça.
Quando chega o momento, torna-se inevitável e precisamos pular de qualquer jeito.
São nessas situações limítrofes que descobriremos quem realmente é capaz na Arte de decidir e quem vai fazer a diferença de ser o 'bem' ou 'mal' sucedido.
Coragem! Lá vamos nós...
*Nota: O termo "floco de neve" tem sido usado para se referir a crianças criadas por seus pais de maneiras que lhes dão um senso inflado de sua própria unicidade. Este uso de "floco de neve" foi relatado ter se originado da obra de 1996 Fight Club de Chuck Palahniuk e sua adaptação para filme de 1999. Tanto o livro quanto o filme incluem a linha "Você não é especial. Você não é um floco de neve bonito e único". https://pt.wikipedia.org/wiki/Gera%C3%A7%C3%A3o_floco_de_neve