Jasmim-dos-poetas

Véspera de primavera, como não falar de flores?

As flores estão entre as mais belas e delicadas criações da natureza, tão cheias de vida e de cores. Com ou sem perfume, nas suas diversas formas, elas nos encantam e nem nos damos conta de como são fundamentais para todos os seres vivos. Seu néctar alimenta aves e insetos, seu pólen gera os frutos e muitas são comestíveis. Em infusão, tornam-se chá. Seus óleos e outros componentes são transformados em perfumes e produtos medicinais beneficiando pessoas e animais. E enfeitam o mundo nos seus mais longínquos confins, até os desertos têm flores e o mar também as têm. Mas atenção, nem tudo que reluz é ouro, algumas delas podem ser nocivas e conter venenos, podendo provocar desde uma simples alergia a uma intoxicação grave. Além da beleza, elas também têm o poder de vida ou morte. Nada é perfeito!

Enfim, a primavera está chegando e as flores já vem dando seu espetáculo pelas ruas, praças, parques e jardins. Depois do frio e cinzento inverno, o clima ameno traz o sol e o céu azul, fazendo crescer as plantas e realçar o colorido das flores, o verde das folhas, para nos deixar mais leves e mais alegres. Estamos precisando!

Quero falar de uma flor, aliás, de um arbusto em especial, que marcou minha infância e marca sua presença diariamente no meu quintal com seu agradável perfume: o Jasmim-dos-poetas. Acho lindo o seu nome, pois nos leva a imaginar por que se chama assim: seriam os poetas inspirados pelo seu perfume ou enlevados pelas suas pequenas flores brancas em formato de estrela? Ou pelas juras de amor trocadas embaixo dos caramanchões floridos e perfumados? Muita coisa seu nome pode suscitar, talvez por isso existam tantas lendas sobre ele mundo afora.

O nome “jasmim” se origina do persa “Yasmin” ou “Yasamen”, que vem do árabe “Yasamin” e se relaciona ao amor divino. Sua cor branca é associada a pureza, inocência e a paz. Na Itália, a sua flor significa boa sorte no casamento e na Espanha, sensualidade. Dizem que sua mística e seu perfume elevam o astral do ambiente. Não é à toa que o incenso mais usado é o de aroma de jasmim, ou talvez por ser a Índia a maior produtora desta planta.

Ele fez parte da minha infância, pois na casa onde cresci tinha um enorme Jasmim-dos-poetas. Plantado no jardim, ele foi crescendo e se enroscando pelas colunas da varanda e subiu até os corrimões da sacada no andar de cima, onde ficava pendente a emoldurar a fachada de tijolos a vista. E quando florescia, seu cheiro doce e gostoso penetrava pela casa toda. Como era boa a sensação de abrir a janela do quarto pela manhã e sentir o seu perfume. Ou ao entardecer, sentar no banco de balanço da varanda rodeada por ele. A noite podia-se ver suas pequenas flores brancas estreladas cintilando a luz do luar. A lembrança dele me fez plantar um no meu atual quintal.

Não sou poeta, mas me arrisquei a fazer alguns versos para o meu simbólico Jasmim-dos-poetas. Se o pequeno poema ficou cafona e arcaico, me perdoem se compartilho mesmo assim...

Jasmim-dos-poetas:

Que poemas trazes pra mim?

Na profusão dos teus galhos

Acolhes lembranças tão caras a mim

Que ao percorrerem teus atalhos

Afloram nos teus botões cor de carmim.

Tuas flores brancas como o pequeno querubim

Deixam no ar uma doce sensação

Ao lançar teu suave cheiro de jasmim

Inebriando-nos com tanta inspiração

Ao espalhar versos pelo meu jardim.