Cada coisa no seu lugar
- relyjae
- 4 de out. de 2020
- 3 min de leitura
Atualizado: 30 de abr. de 2022
“É importante colocar cada coisa no seu devido lugar. Assim como um quarto pode estar e ser mantido em ordem, com a vida ocorre o mesmo”. Mary Poppins

Tem dias que dá uma vontade de arrumar e consertar tudo que está por fazer na casa da gente. Pendências que nos incomodam e desacomodam. É bom aproveitar esses repentes para deixar tudo nos trinques. Poderíamos chamá-los de surtos de organização. Não é novidade que isso faz bem para a mente, pois nos sentimos mais leves e satisfeitos ao deixar o ambiente em ordem. Seria uma espécie de transferência de dados imediata: as conexões cerebrais emitem a ordem para as mãos que executam as tarefas; conforme elas vão sendo concluídas, retornam sinais ao cérebro causando uma onda de bem estar. Ao organizar as nossas coisas, algo parece se acomodar, se encaixar em nossa mente, sensação semelhante à de completar um quebra-cabeça.

O princípio da Gestalt pode nos ajudar a entender melhor este processo do modo como percebemos as coisas. Quando nos chega um estímulo visual, nosso cérebro processa as características semelhantes unindo-as, percebendo a sua totalidade, para depois se ater aos detalhes. Ele as organiza. Nosso comportamento diário é influenciado por isso, e o fazemos automaticamente.

São várias as leis da Gestalt quanto a percepção da forma, mas duas podem ser as responsáveis diretas pelos nossos surtos de organização: a Lei da Unificação e a Lei do Fechamento. A da Unificação, como já diz o nome, nos leva a busca de um todo harmônico e agradável aos olhos: a boa forma. Já a do fechamento, leva o cérebro a formar uma imagem completa, mesmo quando o que vemos, são apenas formas inacabadas ou insinuadas.

Os mais conhecidos exemplos disto, são os quatro pontos isolados, que nossa visão “fecha”, enxergando um quadrado, e a imagem de Jesus Cristo, que se forma em meio às manchas. Pode estar aí a explicação por que nos sentimos desconfortáveis diante de um ambiente desordenado: objetos espalhados, sobrecarregam os sentidos e atrapalham o relaxamento físico e mental. O cérebro fica em estado de alerta com o trabalho inacabado e no afã de juntar as partes, gera ansiedade.

Quem não lembra do seu quarto cheio de brinquedos espalhados na infância? E na adolescência, as roupas atiradas por cima da escrivaninha, da cama, da cadeira, nunca no guarda roupas? E o ultimato materno: – Enquanto tu não arrumares o quarto, não vais sair de casa!
Nesta época sempre desejei ter o poder do estalar de dedos da Mary Poppins. Lembro quando vi o filme pela primeira vez, cheguei em casa estalando os dedos e imaginando todos os brinquedos indo para o seu devido lugar. Que visão maravilhosa! Esta mágica, ficou carimbada no meu subconsciente e volta e meia o desejo vem à tona. Por exemplo, quando vejo a pia cheia de louça...
Mary Poppins, musical lançado pela Disney nos anos sessenta, foi um sucesso. Poderia até ser considerado um filme de autoajuda no relacionamento familiar, pelas mensagens positivas da personagem, reforçadas por suas canções. A linguagem do filme alcançava pais e filhos. Naqueles tempos ainda não tinha nem nascido a Marie Kondo, a guru japonesa da arrumação que ganhou até série na Netflix. Foi ela que escreveu o livro A Mágica da Arrumação – a arte japonesa de colocar ordem na sua casa e na sua vida. Será que ela se inspirou na magia de Mary Poppins? Boa pergunta para se fazer a ela. Mas entre a Mary e a Marie, fico com a primeira, a Poppins, interpretada por Julie Andrews na versão original.
Talvez, o recado mais importante trazido por Mary Poppins, tenha sido o seu poder transformador do estalar de dedos, que na verdade, continha uma mensagem subliminar: o poder da ação e da motivação.
Então, mãos a obra, e vamos por a vida em ordem!
Logo que a pandemia começou, eu tive um leve surto de organização, mas passou (hehe). E, desde então, estou precisando do estalar de dedos da Mary Poppins. Ou, quem sabe, da inspiração na teoria de Gestalt? Obrigada por mais esse texto maravilhoso. Vou te mandar via WhatsApp uma foto do meu encontro com a Mary Poppins.